Por Francys Saleh
Designer e docente no curso de Design de Moda na Universidade Católica de Pelotas (UCPEL)
Ilustração: Megan Hess
Imagem: Reprodução
Um dos conceitos mais difíceis de internalizar na moda é como adaptar o desenho de moda às mudanças de comportamento. A figura de moda é aquela pessoa cuja aparência e corpo representa a proporção perfeita em um determinado momento. Quando olhamos para filmes, pinturas ou revistas antigas, o desenho parece ter um foco diferente a cada década. Para entender esse conceito, deve-se estar totalmente aberto às mudanças, pois a figura que funcionava na década de 40 não vai funcionar nos anos 2000.
As roupas, a silhueta e as peças de baixo determinam as proporções da figura de moda. Às vezes, algo considerado o “ideal” do momento, durante um período, parece muito diferente em outro. Ao olhar para as fotos de Marilyn Monroe da década de 1950, muitos podem achá-la um pouco pesada e não tonificada para os padrões de hoje.
Ano de 1950
Na década de 50 a modelo ideal tinha cerca de 1,70m e era muito magra. Os artifícios para mudar o corpo, como por exemplo as cintas para a cintura e o quadril e também os sutiãs acolchoados davam a impressão de um corpo ainda mais fino para as roupas do período. A modelo parecia sofisticada e indiferente e, ao se estudar as fotografias desse período, é possível observar que as poses eram resultado das restrições das peças colocadas sobre seu corpo. Muitas vezes apenas uma perna estava em frente à outra e os braços eram apoiados nos quadris. A aparência era alta e esbelta e as poses tinham um movimento estudado.
Ilustração da revista de moldes americana Butterick.
Na década de 1950 as mulheres utilizavam cintas e sutiãs com enchimento para modelar o corpo.
Imagem: Reprodução
Ano de 1960
O visual do início dos anos 60 era baseado no requinte e na perfeição. Audrey Hepburn e Jacqueline Kennedy tornaram-se ideais de beleza do momento ao usar roupas desenhadas por Givenchy. Magras, elegantes, populares e sofisticadas com um toque de glamour, elas abriram caminho para uma sofisticação mais jovem. Suas aparências eram estudadas, mas tinham uma qualidade mais casual e menos formal. Isso foi um contraste marcante com o estilo muito sério e formal estabelecido por suas antecessoras, como a Duquesa de Windsor. Audrey Hepburn e Jacqueline Kennedy trouxeram vida nova para o ideal de moda.
Na metade da década de 1960, ocorreu uma das mudanças mais importantes no foco da moda. Estilistas como Mary Quant nos deram a minissaia e nunca a atitude de moda foi tão livre. A saia curta permitiu que as modelos pulassem pelas páginas das revistas.
Ilustração da revista de moldes americana Butterick.
Na década de 1960 as mulheres apresentavam uma sofisticação “jovial”.
Imagem: Reprodução
Fotógrafos, como Richard Avedon, e ilustradores, como Antonio Lopez, deram um novo movimento para a figura de moda. De repente, as mulheres queriam parecer mais jovens. O visual inacessível das modelos dos anos 1950, como Dovima e Suzy Parker, deu lugar a Twiggy, Jean Shrimpton e Penelope Tree. Elas eram jovens e espirituosas e seus corpos eram praticamente livres de todos os artifícios. As saias mal estavam ali e, na figura, apareciam somente as pernas. O desenho de moda era menos curvilíneo e a aparência era mais de “menina” do que de “mulher”. A maquiagem era menos séria e mais divertida. Os cabelos soltos ganharam mais volume do que nunca. A partir da década de 1960, a figura de moda tornou-se mais natural.
Ilustração de Antonio Lopez para a revista Elle.
Imagem: Reprodução
A maquiagem parecia menos artificial e a figura de moda “perfeita” era atlética, tonificada e saudável – não magra como um cabide, mas sim uma mulher com um corpo mais real. Ela não era nem muito sofisticada, nem menina, mas uma mulher livre, completamente à vontade com ela mesma.
Temos que aprender a adaptar o desenho de moda às mudanças de comportamento, para sermos flexíveis sobre qual seria a proporção ideal e aceitarmos o fato de que a mulher está aberta para novas experiências. Lembre-se: o que parece perfeito em uma década parece muito estranho em outra.
Ilustração de Sophie Griotto.
Imagem: Reprodução
Atualmente podemos destacar o trabalho de duas francesas: Sophie Griotto e Garance Doré. Elas retratam mulheres contemporâneas em suas rotinas urbanas. As ilustrações de Griotto são carregadas de detalhes, seja de cabelos com diferentes penteados e cortes, detalhes e texturas de tecidos e objetos ao redor. Já o trabalho de Doré é mais clean, minimalista e com traços leves.
Ilustração de Garance Doré
Imagem: Reprodução
Você conseguiu enxergar as adaptações que o desenho de moda sofreu para se adequar às mudanças de comportamento ao longo do tempo? Se ficou alguma dúvida, basta deixar um comentário no formulário abaixo. Até a próxima!
FONTE:
Ilustração de Moda: do conceito à criação – Steven Stipelman.
http://sophiegriotto.portfoliobox.fr
http://www.garancedore.fr
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