Empresas de confecção que investem em tecnologia têm obtido vantagens em toda a produção, como melhora a qualidade dos produtos, aumento de produtividade e redução dos custos. O consultor especialista na área têxtil e de confecção Mauro José Pereira fala em entrevista sobre esse assunto. Mauro já prestou consultoria para diversas empresas da área têxtil e de confecção e ministra treinamentos para compradores de marcas como C&A, Lojas Riachuelo, Marisa, Renner, entre outras. Ele é o único consultor latino-americano da Werner International, empresa de consultoria com sede nos EUA.
Por que as empresas de confecção precisam pensar em investir em tecnologia?
Mauro José Pereira – Quando falamos em tecnologia temos que lembrar que se trata de técnicas em geral: gestão, máquinas, equipamentos, treinamentos, etc., portanto, investir em tecnologia é uma questão de sobrevivência real das empresas!
É vital estar sensível às necessidades do consumidor. Respostas rápidas são solicitadas a todo instante, pois o consumidor assiste à novela e dois dias depois quer ver estar nos pontos de venda o que as atrizes/atores estavam usando! Quem consegue imprimir este ritmo sai na frente! E quem é que consegue? São aquelas empresas que são ágeis e estruturadas (independentemente do tamanho), em outras palavras, são aquelas que se utilizam de tecnologias “antenadas” com o nosso tempo.
Quais as principais vantagens alcançadas pelas confecções quando investem em tecnologia?
Mauro José Pereira – O tempo hoje é muito precioso, não podemos perdê-lo com assuntos em que a solução existe e que por desconhecimento não utilizamos! Por exemplo, por que ficar discutindo sobre modelagem se existem programas que facilitam todo o trabalho desde a concepção inicial da ideia até o risco pronto? Por que ficarmos trabalhando em produtos que estão fora da faixa de preços se já podíamos fazer as adequações necessárias na “prancheta”, quando não desperdiçamos tecidos?
O uso da tecnologia permite a integração dos processos de produção. Quais os benefícios alcançados com essa integração?
Mauro José Pereira – Há uma máxima nas empresas que diz: “O comercial sempre vende o que não estamos produzindo e a produção nunca produz o que estamos vendendo”. Pode parecer engraçado, mas isso acontece com mais frequência do que se pode imaginar!
Ou seja, para uma empresa ser competitiva ela deve estar integrada, todas as suas áreas tem que “falar a mesma língua”, os objetivos tem que ser comuns, pois a meta é atender ao consumidor dentro do interesse da empresa é claro! Creio que o principal benefício para a empresa neste caso é vender seus produtos com LUCRO! A integração minimiza os riscos e maximiza os potencias do negócio.
Como você vê o mercado para as empresas que não investem em equipamentos de ponta?
Mauro José Pereira – Estamos falando de sobrevivência de todo um segmento industrial! O chamado “apagão de mão de obra” te obriga a buscar alternativas pela falta de gente qualificada em todas as áreas. Como fazer? Temos que substituir a qualificação desta mão de obra por máquinas e equipamentos que nos garantam o padrão de qualidade, a produtividade necessária e, acima de tudo, a conformidade exigida.
Em termos quantitativos continuaremos tendo a necessidade de utilizar pessoas (as indústrias da confecção, por suas características e matéria prima, são muito difíceis de tornarem operações 100% automatizadas) sempre haverá a necessidade de um operador. Basta que este olaborador não seja o responsável direto pela produção da qualidade, por exemplo, que a máquina faça este papel. Portanto, não se devem encarar os “investimentos em tecnologia” como luxo e sim como uma necessidade.
Com a invasão dos produtos chineses no mercado brasileiro, alguns especialistas falam que a tendência é que as empresas parem de produzir e comecem a importar esses produtos e comercializar. Como você vê isso?
Mauro José Pereira – Primeiramente, quem realmente é o nosso concorrente? E a resposta pode não agradar, mas em minha opinião o nosso grande concorrente somos nós mesmos! Principalmente a nossa ineficiência, a nossa baixa produtividade. Temos que trabalhar com uma gestão mais eficaz, utilizar as tecnologias oferecidas, enfim, ter “tempo disponível” para cuidar mais da estratégia do seu negócio e ter menos intervenções no andamento do dia a dia da empresa.
A China não é um problema única e exclusivamente das empresas brasileiras, a China é um problema mundial incluindo a própria China, (ela é um problema para ela mesma, o que fazer com uma população daquele tamanho, como alimentá-los?), portanto temos que cuidar primeiramente de nossos próprios negócios e depois nos preocuparmos com a China. Ou alguém neste exato momento tem uma disponibilidade produtiva de cumprir um pedido de entrega de 100.000 peças dentro de qualquer segmento da confecção? Pense nisso, algumas empresas mal conseguem entregar em dia os seus pedidos tradicionais por falta de planejamento! Estamos falando de organização, gestão, planejamento, empresas mais eficientes e mais eficazes, nós somos muito criativos e temos que utilizar isso a nosso favor!
A competição é inevitável, hoje as informações nos são apresentadas em tempo real! Temos que nos preparar para essa realidade. Não são os chineses que vão conquistar nosso mercado, serão nossas deficiências que vão deixá-los entrar. O mercado europeu e também o americano já disseram que se tiverem opções que não custem a vida de pessoas inocentes (a tragédia de Bangladesh, por exemplo), comprariam produtos de qualquer país do mundo! E porque não do Brasil, por exemplo?