Por Kledir Salgado
Designer de moda com Mestrado em Têxtil e Moda pela USP
O prêt-à-porter foi uma construção conjunta entre EUA e Europa. Da América veio a configuração produtiva e da Europa as configurações estéticas. Essas configurações estéticas foram organizadas a partir de bureaux de estilo que determinavam formas, conceitos e elementos estilísticos. Coube aos Estados Unidos a organização da indústria de massa em novas configurações que garantissem a qualidade estética e produtiva da roupa.
Segundo Alexandre Bergamo, bureaux de estilo são escritórios de pesquisa de moda que, na linguagem própria à área, têm a função de prever as tendências de moda que estão por vir. Os discursos desses bureaux têm um alcance maior do que pode ser pensado em termos de apostas para a moda. Os consumidores dessas informações são apenas os maiores empresários ligados à indústria de moda do mundo. Portanto, os bureaux de estilo não são irrelevantes.
Ao contrário, a adesão em grande escala a esse tipo de discurso faz com que efetivamente suas previsões se tornem realidade. Isso por um motivo bastante simples: passa a ser produzido em escala mundial aquilo que foi previsto pelos bureaux. Logo, vai estar disponível para compra no mercado exatamente aquilo que os bureaux disseram que estaria. [1]
Bureaux em forma de catálogo
Cada empresa utiliza de suas ferramentas de pesquisa para compreender o comportamento do consumidor, bem como aspectos políticos e econômicos e sociais que possam afetar a moda, ou melhor, que possam afetar o modo como as pessoas irão querer se expressar em um momento futuro.
No mercado de moda existem bureaux de estilos para vários públicos e segmentações, entretanto, o empresário de moda tem que estar disposto a fazer o investimento para ter acesso a informações e assim lançar produtos competitivos.
Os temas abordados pelos bureaux de estilo direcionam as cartelas de cores disponíveis na indústria, as estampas e os tipos de tecidos que chegam ao mercado, à modelagem e ao estilo. O material é fornecido online mediante assinatura, o que facilita muito a vida dos compradores de moda e designers ao redor do mundo, que podem utilizar dessas informações a qualquer momento, sem ter que sair de seus escritórios. Alguns bureaux também aparecem em forma de catálogos e trazem os desenhos técnicos das roupas, estampas, cartela de cores, inspirações, materiais e até mesmo informações de visual merchandising.
Bureaux de estilo com segmentação infantil
Hoje a maioria das empresas de moda utiliza esse serviço, o que acaba tornando a moda um tanto quanto homogênea em toda a indústria. Alguns críticos de moda dizem que essa consolidação da antecipação de comportamento deixa a moda mais direcionada. Já as empresas a seguem para ter uma garantia de bom negócio. Entretanto, outros dizem que essa estratégia pode fazer com que o produto tenha pouco diferencial e identidade.
Mesmo assim, vale uma regra na construção do mix de produtos: 10% da sua coleção devem ser de itens básicos, 20% de itens vanguardistas e 70% de itens vindo de bureaux de estilo. Assim sua coleção não será uma cópia dos bureaux e sim uma organização de produtos com direcionamento e planejamento.
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[1] Definição disponível em: BERGAMO, Alexandre. O campo da moda. Rev. Antropol., São Paulo, v. 41, n. 2, 1998.