Por Lucía Andrea
Designer e empresária de moda
A tatuagem é um fenômeno global. Darwin afirmou que não existe nação na Terra que não a conheça. Apesar de ser uma forma de arte efêmera (que finda com seu suporte, o corpo), ela vem acompanhando a humanidade há milênios e não apresenta absolutamente nenhum indício de que irá sair de moda, ao contrário, a técnica vem se aprimorando e recebendo até importantes contribuições tecnológicas. No post de hoje, vamos falar um pouco sobre tatuagem e moda.
A técnica
A técnica em si, de inserir pigmentos sob a pele, não mudou tanto assim ao longo da história. No entanto, há variações importantes na qualidade do resultado, devido aos instrumentos utilizados. A tatuagem ideal é finamente desenhada, com linhas uniformes, e deve conter a quantidade precisa de pigmento para penetrar na pele na profundidade ideal, sem deixar cicatrizes.
Sumário
Os antigos japoneses utilizavam uma técnica manual sofisticada, com palitos e agulhas, e conseguiam um resultado bastante detalhado. Já o povo Inuit tatuava através de agulhas com fios coloridos. Na Europa antiga e nos povos indígenas norte-americanos, utilizavma-se uma pedra afiada para realizar cortes na pele, em forma de pontos, espirais ou outras formas.
A máquina de tatuar elétrica foi patenteada em 1891 por Samuel O’Reilly e é popular até hoje. Há adaptações dessa máquina, utilizando artefatos giratórios como barbeadores e leitores de fita cassete, que servem como motores para realizar as tatuagens. Estas técnicas são comuns em prisões, mas os resultados podem ser satisfatórios.
Ferramentas para tatuagem utilizadas pelo povo Maori, da Nova Zelândia
Fonte: Tatoos (Henk Schiffmacher)
Os porquês
Historicamente, a tatuagem já serviu como camuflagem e já foi parte de performances religiosas, como são as tão conhecidas tatuagens tribais. Homenageou mortos, distraiu inimigos, serviu para marcar rituais de iniciação e, até mesmo, foi utilizada como vacinação e tratamento médico: o povo das ilhas de Samoa tatuavam contra o reumatismo, por exemplo. E hoje em dia, são realizadas tatuagens de mamilos para mulheres que sofreram masectomias devido ao câncer de mama.
Outra razão que leva as pessoas a se tatuarem é o teor erótico. As tatuagens têm também a função de tornar o corpo mais atraente e, também, de comunicar gostos sexuais: sadomasoquistas, fetichistas e afins utilizam as tatuagens para reconhecer uns aos outros.
São usuais também tatuagens que expressam declarações de amor e amizade, patriotismo e protestos. Além disso, há quem goste de expressar admiração por um ídolo, uma marca, uma figura ou uma ideia. Existem também tatuagens cosméticas, como a maquiagem permanente e a tatuagem para cobrir cicatrizes. E as tatuagens compulsórias, como aquelas impostas aos judeus durante o holocausto.
Tatuagem de artista desconhecido, por volta dos anos 60
Fonte: Tatoos (Henk Schiffmacher)
Tatuagens e a moda
A relação da tatuagem com a moda é, de certa forma, contraditória. Trata-se da aquisição de um adorno permanente, ou, nas palavras de Carla Lemos, autora do blog Modices, “tatuagem é como um broche herdado que você usa sempre”. No entanto, não é possível afirmar que a tatuagem esteja imune à ação da moda: É só olhar um pouco para trás e ver que cada época teve sua leva de tatuagens marcantes e repetidas quase que “em série”.
Mas muito além daquilo que pode ser replicado ou identificado como tendência, a tatuagem faz parte da identidade pessoal, e isto tem tudo a ver com moda, sim. Afinal, a moda vai muito além do vestuário: trata-se em primeira instância da construção de uma imagem, legitimada através de elementos visuais e comportamentais, ambos possíveis de ser identificados na prática da tatuagem.
Motivos de tatuagem comuns na década de 50
Fonte: Tatoos (Henk Schiffmacher)
Fontes de pesquisa:
Blog Modices: modices.com.br
Henk Schiffmacher: Tatoos. Editora Taschen, 2001
Saiba mais:
A tríplice corpo-embalagem-moda